quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Alô papai!

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Por Mônica Caluete

Quando se trata de educar os filhos, costuma-se escrever, falar e imputar responsabilidades, praticamente exclusivas, ao papel de mãe. Certamente mais um fruto da cultura machista!

Nessa realidade, culpabiliza-se a mãe e exila-se o pai no processo de educação dos filhos.

É verdade que essa cultura vem, pouco a pouco, sendo transformada.E é para esses novos pais que dedico essa reflexão.

Não existem fórmulas para jogar o papel de pai na vida - tanto quanto o papel de mãe. E as idealizações não logram bons resultados. Porém, só o fato de tentar se envolver já é uma clara mensagem de amor.

Comecemos por lembrar que a paternidade é algo mais que a possibilidade de ser fértil e ter capacidade de procriar!

É preciso assumir a responsabilidade primaria do amor pela criança e ir mais além. Necessita-se superar os papeis estereotipados, estabelecidos ao longo da história.Superar no sentido de explorar, conhecer e aceitar as exigências próprias do tempo atual,as demandas, as características e os “tempos” de cada filho em particular.

Quem disse que era uma tarefa fácil esta de ser pai?

Aprender e participar do ofício pode ser reconfortante para o homem que deseja ser pai. Ninguém nos obriga ou exige que sejamos pais. A paternidade é uma eleição e um compromisso; ainda que tenha sido fruto de uma irresponsabilidade.

Crescemos escutando que o pai é a lei, a autoridade, o limite,a moralidade, o provedor do lar.Às mães cabem, além do seio-alimento-afeto, a sensibilidade, o compromisso o estímulo, o apego e os vínculos.

Estabelece-se o duelo de sempre: masculino versus feminino. Uma dicotomia que se rompe quando entendemos que já passou de moda a “guerra dos sexos” e, que o quê precisamos buscar é a integração, para alcançarmos o melhor modelo de pais que se possa ter.

Vamos tentar articular as distintas teorias psicológicas. Apesar de cada qual ter seu foco em aspecto em particular, todas coincidem sobre a relevância do vinculo pai-filho!

As últimas investigações realizadas em torno do laço paterno, certificam que já nem todos os olhos estão exclusivamente voltados para o benefício seguro do apego mãe – filho. Os novos resultados assinalam, entre outra coisas, que “o pai tem as mesmas capacidades para criar um filho que uma mãe”; Que as crianças com pais altamente comprometidos se caracterizam por uma maior capacidade cognitiva, maior empatia,crenças sexuais menos estereotipadas e melhor capacidade de auto controle. Enfim, “quem maior contato teve com a figura paterna, maximizou suas capacidades e chegaram a atingir patamares mais elevados de competência.”

Os bebês que desde os primeiros meses de gestação gozam da influência paterna positiva, conseguem desenvolver maior autonomia e independência e manter laços significativos ao longo de sua vida.

O psiquiatra infantil James Herzog crê que a primeira seqüela que um pai ausente pode gerar em seus filhos, meninos ou meninas,é a dificuldade de controlar os níveis de agressividade.Segundo o autor, professor da Universidade Harvard, quem não teve um vinculo paterno seguro muito provavelmente não pode orientar suas pulsões e energia em torno de condutas produtivas e saudáveis. Neste sentido, os meninos tornam-se pessoas duras, rígidas e violentas.Enquanto as meninas passam a canalizar sua raiva de maneira auto destrutiva.

Muitos casos de adições, violência, delinqüência e outras condutas anti-sociais extremas têm fundamento nessa falta paterna.

Herzog defende também que uma das conseqüências desse pai ausente é o manejo com a própria sexualidade e os sentimentos sexuais. Aqui novamente difere as conseqüências para meninos e meninas. Os meninos que sofrem essa ausência tendem a desenvolver, mais tarde, fantasias homoeróticas.QUE É DIFERENTE DE SER HOMOSSEXUAL.Quanto maior for “a fome de pai”, maior é a possibilidade de encantamento e desejo por um mentor, treinador, professor, amigo próximo. E maior também é a possibilidade de sexualizar esses sentimentos. No caso das meninas, esta “fome” pode conduzir a um incremento no número de parceiros sexuais, porém com muito menos grau de satisfação.

Seria injusto deixar de reconhecer o trabalho de muitas mulheres que são única referencia em tantos lares mono parentais, típicos desses tempos.Acredita-se que tendo internalizado pai simbólico, representante das leis culturais, é possível alcançar sucesso no estabelecimento do necessário limite entre elas e seus filhos.

Mesmo na ausência do pai, é importante preservar a figura, lembrança, seja em caso de morte, de doença ou falta de habilitação para exercer seu papel. E evitar desqualificações diante dos filhos, mesmo que esse pai não possa ou não saiba cumprir sua responsabilidade e compromisso.

Os pais deveriam evitar expor seus filhos aos conflitos e duelos do mundo dos adultos.

Assim como herdamos as idéias e emoções dos nossos pais, também recebemos legados sobre estilo e formas particulares de vincularmo-nos e comunicarmo-nos com os outros. É tarefa do filho definir e aceitar seu pai, para poder eleger, reciclar ou descartar o modelo que se tenha herdado.

É importante saber que nosso cérebro e nossa vida podem ser flexíveis, tanto quanto desejarmos. Nesse sentido, devo destacar que mesmo que as carência ou ausências (materna ou paterna) possam ser determinantes, as experiências de vida nos ajudam a resignificar e decidir o que queremos ou necessitamos para nosso projeto de vida.