terça-feira, 23 de abril de 2013

Nós e a longevidade



Até muito recentemente, longevidade para mim era uma palavra que remetia às civilizações asiáticas, mais precisamente no Japão. País onde era possível encontrar pessoas saudáveis e ativas aos 100 anos.
Hoje, século 21, podemos até mesmo aqui no Brasil, país recém saído da condição de subdesenvolvido para emergente, dizer que a geração que viverá 150 anos já nasceu. Incríveis esses saltos todos que demos! Aumentamos em 28 anos a expectativa de vida entre 1940 e 2010. Esse aumento trouxe-nos uma nova relação familiar.

Agora, os filhos vivem com os pais que estão envelhecendo dilemas muito parecidos com que os pais viveram com eles na adolescência:
- Devemos apoiar a autonomia deles, mas sem deixar de cuidar?
- Como podemos lidar com os sentimentos de irritação e ternura que se alternam quando percebemos mudanças de comportamento típicos na fase de vida deles?
- Como podemos lidar com o medo de perdê-los de vista?
- Como lidar com aquela sensação de impaciência ou nos vermos naquelas reações que nos denunciam pelas semelhanças?
- Como podemos nos organizar para nos mantermos perto deles, apesar das nossas vidas serem corridíssimas?

É, são questionamentos vividos apenas diante dos nossos filhos adolescentes.
Avançar os limites da expectativa de vida, sempre foi uma declarada ambição humana. E aí apareceram a evolução da medicina, os avanços da farmacologia, ou a disseminação de hábitos mais saudáveis, que aumentam a probabilidade do corpo humano manter a sua vitalidade ao longo dos anos.
Tantas mudanças em tão pouco tempo trouxeram uma nova confirmação das relações familiares. Como as pessoas estão vivendo mais, os filhos estão precisando aprender a lidar das mudanças dos pais que envelhecem, mas lutam, e com razão, para manter a própria autonomia. Em muitos casos, os filhos estão envelhecendo junto com os pais.

É uma situação nova. Ninguém se preparou para isso. Naturalmente surgem ansiedades, dúvidas e angústias.
“Mas, mesmo os filhos vivendo um momento delicado diante da velhice dos pais, é possível ter uma experiência de vida muito rica, de superação de crescimento, fundamental para pausar o próprio envelhecimento a relação com os filhos e com o futuro” (Delia Goldman – Corpo, tempo e envelhecimento).

Guardando a alteridade de cada caso, ainda assim, a maneira como os filhos se confundem quando percebem o envelhecimento dos pais, tende a ser parecida. As dúvidas universais vão desde coisas cotidianas, como saber o momento em que é preciso montar uma rede de prevenção para que os idosos vivam com segurança e bem estar, até dramas filosóficos. É como lidar com a construção da própria finitude e a pergunta inevitável: Como vai ser na minha vez?

Segundo Alberto Gondim, psicanalista, detectar como os pais reagem diante do próprio envelhecimento é algo valioso. Mesmo que haja resistências, de forma delicada, é possível introduzir o tema e juntos eles podem observar se é preciso adotar uma nova estratégia ou algumas mudanças no estilo de vida. Mas  é preciso lembrar: Velhice não é doença. É evolução de vida!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Adições desta era


Cerca de 30% das pessoas padecem em algum momento de um quadro depressivo ou ansioso por causas diversas. Detectar os desejos do pensamento, saber gerir os problemas, aplicar uma lógica às exigências, aprender a perder e trabalhar a humildade, proporciona um equilíbrio saudável à vida.

A moderação, como medida, está cada vez mais difícil de alcançar. Educar a auto-afirmarão, autonomia e fortalecer o espírito, mediante estratégias, como por exemplo um hobby ou maior contato com a natureza, neutralizam os comportamentos  complexivos: dependências à rigidez psicológica doentia, gera isolamento, hostilidade e promovem uma violência individual e social significativa.
A mente aberta, ao contrário, se adapta a mudanças com risco característico dessa época. Tem mais probabilidade de progresso de gerar soluções pelo seu amplo aspecto de recursos mentais.
Para achar esse caminho, existem alguns passos fundamentais: descobrir como somos, como funcionamos, do que necessitamos. O que deveríamos aprender ou rever? Otimismo, criatividade, humor, capacidade de perdoar e agradecer.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Conecte-se à rede social do abraço


Atualmente ao falarmos de relação, vínculos, amor etc,devemos somar à palavra chave: contatos! É que as redes sociais parecem ter chegado para nos “enredar” com o mundo lá fora, nos ofertando maior possibilidade de encontros ou informações de nós mesmos e dos outros.

Bendita seja a tecnologia que chega para nos aproximar e nos abrir a um mundo imediato e ilimitado! Problemas podem advir quando nos confundimos ao ponto de deixar tudo nas mãos do mundo virtual.
O Facebook apareceu como a fada madrinha das possibilidade relacionais, usado indiscriminadamente por jovens e adultos dos mais diferentes níveis intelectuais, sociais e econômicos.

Tornou-se e a ferramenta ideal para quem está só ou não quer se expor. Nessa linha, estão também os que preferem lamentar-se por não encontrar quem valha à pena.Sem dúvida, o Facebook  e outras redes sociais ganharam adeptos rapidamente.Alguns até apostam nesse recurso como uma agência de matrimônio instantânea.

Proponho pensarmos numa mudança de estratégia para as pessoas que usam a rede para tão só ter uma “janela para ver, mas para ser visto pelos que estão conectados”, porém sem contato real,que revisem o  estilo ou o tipo de contatos que estão frequentando.Repensar as nossas visitas, a procura frenética de satisfação afetiva; os milhões de contatos; os murais de fotos, sempre sem abraços...

Qual o medo de nos relacionarmos frente à frente? É temor do fracasso? É só uma questão de moda,tendência? Comodidade? Não sei. Mas o certo é que dia após dia parece que fica mais difícil estabelecermos vínculos reais nesses tempos. Entretanto,f az-se urgente tentá-los!

Não é uma crítica. Só um convite para um outro olhar!
Não pretendo encontrar a resposta que nos indique o temos de fazer para encontrar-se com o outro e descobrir o amor em todas as suas formas. Porém diariamente peso que aprendemos,buscamos e nos decepcionamos com a difícil arte de amar! Certamente,fazemos o que podemos. Mas não nos esqueçamos: o amor e todas as suas possibilidades estão lá fora! E nos que estamos fazendo? Que estamos esperando?

O tempo não pára!

Entendo que o amor não é um conto de fadas que se lê noite após noite. E sim uma história que se escreve, se vive e se constrói a cada dia. Para realizar essa árdua tarefa, contamos,entre outras coisas, com os cinco sentidos.

O problema é que ao nos relacionarmos virtualmente esse valioso instrumental perde sua força. 
Sei que os relacionamentos no seu começo é repleto de encantamento, enamora mento, independente do tipo de contato que o faça emergir.Mas também sei que o amor não se sustenta exclusivamente em torno de velhas lições, modelos ideais e fantasias.O amor carece de cotidiano de encontros e confrontos (respeitosos), uma oportunidade de eleger-se e comprometer-se de uma maneira mais autêntica.Isso não significa que as histórias de amor dos nossos avós ou pais tenham sido artificiais ou superficiais e que não tenham implicado em duro trabalho para “fazer perdurar”.Mas eram outros tempos e portanto eram outras   possibilidades de ser, sentir e até mesmo poder expressar o que cada um precisa e podia dividir.

Escuto com frequência o testemunho de pessoas que ainda seguem pensando em uma relação de casal de acordo com os modelos tradicionais. E este é, creio,um dos motivos essenciais pelo qual muitas relações não se concretizam, não se finalizam,ou sequer permitem o “encontro”.

É obvio que quem começa uma relação, investe e acredita que será para sempre. Porém se há algo que devemos desejar a quem hoje começa uma relação é que consigam,ambos,ajustar –s e aos tempos atuais,sincronizar relógios e viver o aqui e agora,mas além do  tempo que foi e do que virá!

Não esqueçamos de um ingrediente fundante da vida de um casal: o sexo.A vida sexual de um casal extrapola o cenário da cama. É importante poder falar sobre fantasias, predileções, preconceitos.
Portanto, o que pretendo compartilhar aqui é que o amor é possível e o será o tanto ou quanto possamos nos comprometer com a “causa”!Sem implicar em  exigência de hipotecar a felicidade!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A culpa

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Hoje me deterei sobre um sentimento recorrente nas famílias e especialmente vivido pelas figuras parentais.

Melhor informados que nunca, os pais têm tremenda responsabilidade. Procuram dar o melhor de si para fazer face às demandas dos seus filhos. Porém atender à lista de tarefas é impossível. Então, a culpa carcome os mais conscientes e é um sentimento com o qual os pais estão intimamente familiarizados.

A clínica nos comprova que quem foi criado em um entorno culposo tem a tendência de sentir-se assim quando adulto. Aprendem a sentir culpa numa idade precoce e este conceito continua a menos que seja confrontado. Tem mais: os pais com esse tipo de antecedentes são mais propensos a utilizar as culpas dos seus filhos para obter deles o que precisam. “Deverias ter vergonha” é uma reprimenda vinda dos pais que cala fundo na auto-estima da criança.

Nem todos pensam tratar-se de um sentimento daninho. Um experimento da Universidade IOWA identificou os mecanismos que ajudam as crianças a converterem-se em adultos capazes de serem respeitosos e terem consideração. Em verdade, foi aplicado um teste que consistia em entregar a uma criança, um brinquedo supostamente valioso e era-lhe explicado que aquele brinquedo havia atravessado gerações. Previamente, o brinquedo havia sido danificado para que ao pegá-lo este se quebrasse nas mão da criança. Soa cruel, não? Mas o propósito não era de cimentar.

Uma personalidade traumatizada, mas de medir este sentimento, passível de ser descrito como “um aperto no estomago”. O usual é que a culpa passe a fazer parte de nossa vida, por volta dos dois anos. Segundo Grazyna Konchanska, que vem estudando o desenvolvimento infantil nos últimos 20 anos (também em IOWA) se demonizarmos a culpa, estaremos frente a seres incapazes de sentir empatia, como acontece com os psicopatas.

Ainda que menos grave, uma baixa capacidade de considerar o outro se instala nessas crianças que ferem seus companheiros de classe ou seus brinquedos. O temperamento que trazem desde os dois anos predispõem alguns a experimentarem a culpa. Entretanto para outros esta emoção vai apoderando-se deles como conseqüência de sua matriz formadora. A culpa colabora com o controle de impulsos.

Não obstante, pesquisadores de outra universidade (George Mason) fracassam no propósito de conseguir unir as habilidades dos pais para criar filhos com os mesmo níveis de culpabilidade que eles mesmos traziam.

June Tangney, psicóloga, destaca no artigo A chave é diferenciar a vergonha da culpa: “A culpa pode nos soterrar do ponto de vista do comportamento, mas também pode ser produtiva”. Segundo ela, a maioria das crianças não distingue entre “Filho fizeste algo mau!”; “Filho você é mau!”. Tendem a ouvir: “Menino mau!”

Vale salientar que a culpa não é algo específico dos pais. Normalmente, quem sente que tem uma tarefa pela qual é responsável e as coisas não saem como ele ou as outras pessoas esperam, a primeira coisa a fazer é acusar-se. Nos pais isso se acentua, porque o que está em questão é uma pessoa que ademais é seu filho.

Existem dois planos possíveis de auto-acusação: um real e um imaginário. Um muitas vezes se incrimina por haver feito coisas que estão somente dentro da cabeça: "Olhei e então aconteceu tal coisa!” Porem isso é algo que só funciona internamente, impossível de demonstrar. A outra culpa, a real,s e processa de maneira distinta: sente-se culpa por coisas que derivam do que o objeto em questão significa para eles. Por exemplo: pais em relação aos filhos. Certamente, a maior parte ama seus filhos, porém todo ‘querer’ é ambivalente. Quero dizer que aglutina sentimentos contraditórios, ou seja, ama-se o filho, mas também tem-se raiva que esse filho tenha uma vida que vai sucede-la, que vai ser mais extensa, que vai ter experiências que os pais não chegaram a ter.

Surge a seguinte questão: A culpa pode ser provocada pela inveja? Provavelmente é sua grande fonte! Isso que dizer que mesmo escandalizando boa parte da população de pais, eles invejam seus filhos! Porém, não é menos correto afirmar que os filhos invejam os pais!
Afinal o que se quer dizer com a palavra I N V E J A, neste caso? Fala-se de um mal estar, uma raiva diante do que tem o outro. Ter no sentido de possessão material, mas também em qualidade. Mesmo que não haja um valor objetivo. Por exemplo: raiva, inveja da independência do outro.

Observamos assim pais repletos de culpa quando as coisas saem mal para os filhos, ou com eles. E muitas vezes, num processo inconsciente se transforma o sentimento em atos.
Amy Chua, rofessora de Direito em YALE escreveu um polemico livro (Hino de batalha da mãe tigre) em que defende: “se uma criança não consegue boas notas é por culpa dos pais que não conseguiram educá-la corretamente”.

“Não assuma que seu filho é débil. Ou que não pode lidar com qualquer coisa”.
“O que os pais chineses entendem é que nada é divertido até que se acerte fazê-lo bem.”
“Para ser bom em alguma coisa tem que trabalhar. E as crianças por si mesmas nunca querem trabalhar, por isso é crucial ignorar suas preferências.I sto freqüentemente, requer força de vontade por parte dos pais, porque a criança resistirá.”

“As coisas são sempre mais difíceis no começo, que é quando os pais ocidentais tendem a render-se. Porém se é bem feita a estratégia gera um círculo vicioso: Prática tenaz, prática e mais prática,i sso é crucial para a excelência do fazer.”

Ameaças como, doar todos os brinquedos à instituições de caridade, fazem parte do método de Chua,claramente distinto do que reina no ocidente, desde o pós guerra, quando crianças passam a ser o centro da casa e os pais os responsáveis por qualquer eventual contratempo.

Gostaria aqui de lançar um olhar sobre a culpa que se esconde por trás da permissividade.
A criança passou de um ser esquecido para a condição de ‘umbigo’ da casa.Todos(as) estão ao seu serviço.Deve-se protegê-los e dar-lhes todas as coisas possíveis .Os pais muito freqüentemente tornam-se escravos dos filhos.Qualquer desejo dos filhos devem ser satisfeitos ,por medo ao dano que possa causar . Além disso os pais procuram se treinar,fazer cursos,ler livros especializados,etc. Até ai,todo bem! O problema é que na prática fica difícil saber em que momento aplicar tais conhecimentos.

Converter a criança em um ditador da casa, pode ser uma estratégia para evitar sentir-se culpados.Não estariam assim subtraindo dos filhos ,a capacidade de desenvolver a própria culpa e resistir a frustrações?

Está latente, ao mesmo tempo,o medo de não ser tão bom pai/mãe como se aspira,o orgulho próprio e a eventuais acusações dos outros,Assim como,o sentimento de competição com outros pais.

Não podemos esquecer que além dos possíveis conflitos com seus filhos o pai e/ou a mãe, também tem conflitos com seus próprios pais.è fácil observar os jogos de disputa e rivalidade entre eles:”Eu sou muito melhor pai/mãe que meu pai/mãe.” Assim podemos nos sentir triunfando diante do pai/mãe.Esse triunfo arruína a imagem do pai/mãe.E pode levar a culpa por haver exagerado nos defeitos deles e nas próprias virtudes.A culpa esta em tudo.É um tema que remete ao passado e avança no futuro,perpassando todas as relações que envolvem as figuras parentais.

Por fim, um trecho da letra de uma música de Paulinho Moska, O Jardim Do Silêncio,c omo uma proposta para reflexão:

A VIDA NÃO PEDE LICENÇA
E MUITO MENOS DESCULPA.
O PERDÃO É QUE FAZ POSSÍVEL
O NASCIMENTO DA CULPA.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

SÓ OU ACOMPANHADA (O)?

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As pessoas da nossa época tendem a estar cada vez mais consigo mesmas.Os vínculos vêm mudando. Os projetos de vida atuais pouco têm a ver com os perseguidos em outros tempos. É que como já sabemos, as relações de gênero mudaram ao ponto de desbancar o modelo de casal tradicional. Sem dúvida, ainda que tenhamos assistido a giros de noventa graus,esta transformação não chegou ao seu fim.

A psiquiatra francesa Mary-France Hirigoyen afirma que quanto aos laços pessoais, a solidão se transformou num traço próprio desta época.
Este fenômeno social, sobretudo nas grandes cidades, cria um paradoxo: “por um lado nos dizem que a solidão é um dos males do século e que precisamos criar vínculos e comunicarmos a qualquer preço; por outro nos é exigido a autonomia.”

A contradição excede a teoria para palpar-se nos fatos. Mesmo nessa era dominada pela comunicação e na qual as relações entre indivíduos são permanentes, existe um grande número de pessoas com o doloso sentimento de solidão. O curioso é que cada vez mais se escolhe viver sem companhia.

É sabido que a autonomia das mulheres tem influído notoriamente na maneira de vincular-se com os homens. Suas conquistas nos campos econômico e sexual lhes abrem portas para a independência e já não se mostram tão dispostas a renunciar a isso para embarcar na vida de casal. Assim, os laços amorosos fusionais têm cada vez menos espaço e o efêmero ganha terreno.
Quando a vida a dois deixa de brindar a segurança de outros tempos, voltar-se para o trabalho torna-se uma opção atrativa. Porém aqui, há tampouco uma satisfação plena, já que a organização laboral atual produz mais solidão.

Mary-France em seu livro As novas solidões não tem dúvidas ao afirmar que “cada um tem que velar por si mesmo.” E que “não existe nenhuma solidariedade entre colegas”.
Como se fosse pouco, esta sociedade julga as pessoas pelos seus êxitos materiais,tornando o consumo vital para existência.

Para o filósofo Gilles Lipovetsky, “seriam as frustrações que levariam os indivíduos a consumir tanto.Quanto mais se multiplicam as contrariedades da vida privada,mais se desencadeia o consumismo,como consolo, satisfação compensatória ou como meio de levantar o moral.”
A má noticia é que tudo isso está a “quilômetros” de satisfazer-nos. “Apesar de uma melhor qualidade de vida e dos modernos instrumentos de comunicação, não diminuem o mal estar anímico e o isolamento vem aumentando.”

Nem a internet nos transporta à salvação esperada. A multiplicação das redes sociais e dos sites de encontros não necessariamente estreitam os laços, já que ali também o indivíduo se encontra como um em meio à multidão de iguais. Difícil diferenciar-se.

Os vínculos pessoais que tomam forma na sociedade moderna se naturalizam com o passar dos anos; porém, algumas conotações perduram. Não por acaso a solidão continua arrastando uma imagem negativa.Temos pena de uma pessoa só, lamentamos que não tenha encontrado ninguém que a acompanhe na sua caminhada pela vida. E se imagina seu tédio, sua depressão e sua frustração.

E os verdadeiros solitários, aqueles que não vivem nenhum desses sintomas, apenas não se atrevem a mencionar seu estado porque temem a imagem negativa que sua situação pode trazer-lhes. Podendo proteger-se de comentário ,tipo: “pobrezinha, não consegue namorado(a)”ou “com este temperamento,vais terminar sozinho(a)”.

Na realidade, o sentimento de solidão é uma noção subjetiva. É possível sentir-se só na multidão, na família ou mesmo no casamento.
“Se trata de um sentimento de vazio interior que não corresponde à necessidade de companhia e sim a sensação de estar desconectado do mundo, de ser incompreendido. No fundo, é a aguda consciência da situação de ser humano, diante de si mesmo e da morte”.

Como em sociedades modernas, as pessoas se encontram para não enfrentar seus medos. Aqueles que desfrutam da solidão são vistos como estranhos!

Conheço inúmeras pessoas que não se entendiam quando estão sós. Escolhem ler, fantasiar,escutar música. Porém, assim como há quem se enriquece com os momentos solitários, existe também a solidão penosa e desesperada. As vivências são bem diferentes.

Nota-se nas estatísticas do recenseamento, que nos últimos 30 anos houve a tendência de duplicação do número de pessoas que vivem sós em suas residências.Tanto é assim que existem empresas, atualmente, que buscam cativar uma fatia do mercado chamada Single.Pacotes turísticos, cafeteria, comidas elaboradas são algumas das campanhas publicitárias voltadas ao publico que vive só.

Os vínculos de casal alternativos ao matrimônio fazem cada vez mais sombra à união tradicional. “No século 13 assitiu-se ao surgimento do amor romântico. Desde então, as pessoas se casam com mais freqüência porque se amam. Porém, a partir da década de 1990, as coisas voltaram a mudar: já que existe amor, por que casar-se? A instituição já não é o casamento e sim o amor, que se converteu na condição indispensável para a vida em comum”.

Neste contexto, não é surpresa que se tornou complicado construir, ter vínculos fortes e duradouros. É que a exigência do amor debilita o casal, porque se a relação se constrói só sobre sentimentos é difícil que agüente o passar do tempo. Se veria obrigada a ser sempre bela e mágica, coisa que pouca vezes acontece. Por isso , se a relação se degrada, se produz aos poucos a ruptura. Esta supervalorização do amor é, na maioria das vezes, uma reação frente ao mundo individualista.

Pesquisas somadas às histórias de vida que se escutam nos consultórios levam a concluir que o individualismo declara guerras aos laços mais íntimos. E nisto o amor próprio tem um papel relevante. “O amor colocado no centro das relações é narcisista: amo essa pessoa porque adoro a imagem de mim mesmo que ela ou ele me devolve. O que implica que se outro atravessa uma má fase, já não me devolverá essa imagem gratificante, então sairei a busca de outra companhia que me permita continuar em meu pedestal.” Isto equivale dizer que esse é um casal que busca a realização pessoal através do outro, mais que a construção de uma relação.

Assim, o ponto final das relações se encontra cada vez mais perto. De fato, a duração dos vínculos é uma das mudanças mais importantes que tem como protagonista o casal da contemporaneidade. “Se o outro não satisfaz, a desafeição é rápida”.

A visão do sociólogo Zygmunt Bauman traz maior clareza ao sustentar que existe uma tendência a tratar seres humanos “como objetos de consumo e a julgá-los como se julga tais objetos, pela quantidade de prazer que podem oferecer”.
Queremos o melhor ao menor custo. Quando o outro já não cumpre as expectativas, é devolvida à fabrica, ainda que tenha expirado o prazo de garantia. E se o assunto é separação, as mulheres assumem papel relevante, pois três em cada quatro pedidos de separação se produzem por iniciativa feminina.

Após uma separação, é importante reconstruir-se só, sem um par que sirva de muletas, pois o ariscar-se em reparar um mal estar interior, introduzindo-se qualquer um(a) imediatamente na própria vida. E esta não é a única razão pela qual devemos aprender a andar sós. Se trata de um recurso que nos permite estar em contato com os próprios sentimentos, desenvolver a imaginação criativa e suportar melhor a perda, o luto.

Sabemos que se aproveitarmos essa oportunidade, a aprendizagem é garantida.Mesmo para aqueles cujas mães não foram presentes e nem souberam se ausentar, dificultando a vivencia da perda de maneira madura.

Não é a solidão que causa dor, sim a ausência de ser amado!!!

Perder um amor não tem que se tornar uma catástrofe irremediável, pelo contrário, o simples fato de havê-lo vivido deveria ajudar a recuperar-se.

Soa simples, né? Porém, na prática,é mais difícil que parece. E isto é justamente uma conseqüência do mundo que vivemos: se valoriza viver com alguém, portanto não há suficiente espaço para a solidão!

Sem dúvida frente ao frenesi desses tempos, começa-se a vislumbrar-se uma necessidade de espaço próprio, algo que vá alem do viver só, em família ou em casal. “O importante é conceder-se momentos e lugares para um, porque ama-se.Amar o outro também é aceitar sua parte inacessível”.

“A solidão é audaz, é perigosa”,afirma Hirigoyen. “Às vezes atua como uma droga que causa dependência. Porém não deve-se confundir essa eleição com rejeição ou indiferença diante dos demais, sim um distanciamento que em nossa época pode ser equivocadamente interpretado. Isto não exclui a presença do outro, porque se estou em paz comigo mesma me torno mais disponível.”

É aqui que se abrem novos caminhos de socialização: privilegiando relações desinteressadas, profundas para não reduzir-se às relações de trabalho e sexo.
Neste novo modo de vida, haverá varias pessoas importantes para uma, não haverá uma única.
Por isso, é que baseado em estudos sobre tipos de relação, precisamos saber identificar e se preciso for ajustar essas formas para melhorar nosso desempenho interrelacional.
Vamos aos diferentes modelos de casais hoje:

FUSIONAL:

Aqui os conjugues fazem tudo juntos; se trata e um modo de relação alienante, mas que gera sensação de segurança. Neste modelo, característico de gerações precedentes, o perigo é que um se sinta devorado pelo outro e tenha a sensação de perder sua autonomia. Na fusão nenhuma boa solidão é permitida.

AUTONOMIA LIMITADA:

Nestes casais a dinâmica relacional não deixa-se invadir pelas regras. Se busca amor, porém sem algumas obrigações.
Os conjugues conservam contas bancárias diferentes, redes de amigos distintas e as vezes tiram férias separados. Em princípio, persiste uma exclusividade sexual e afetiva. Se um terceiro se imiscuí na relação, salvo exceções, aquele que se sentiu traído terá grande dificuldade de voltar a confiar e se inclinará para o modelo fusional ou ainda torna-se palpável à eleiçãopela solidão.

NÃO CONVIVÊNCIA:
No extremo oposto do casal fusional, alguns sentem necessidade na intimidade de desfrutar de um espaço próprio. Por isso diante da dificuldade de viver juntos o dia a dia, alguns casais, jovens ou cinqüentões, decidem não conviver sob o mesmo teto.
No início da relação, quando um dos dois mora em outro país, ou quando se tem uma vida independente que não se quer renunciar, optam por este tipo de vínculo.

OUTRA FORMAS:

Casamento de três, ou triangulares, que permitem conciliar a bissexualidade; ou ainda relações abertas, que experenciam uma liberdade sexual completa; e as relações em que a fidelidade se situa na duração do contato.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Alô papai!

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Por Mônica Caluete

Quando se trata de educar os filhos, costuma-se escrever, falar e imputar responsabilidades, praticamente exclusivas, ao papel de mãe. Certamente mais um fruto da cultura machista!

Nessa realidade, culpabiliza-se a mãe e exila-se o pai no processo de educação dos filhos.

É verdade que essa cultura vem, pouco a pouco, sendo transformada.E é para esses novos pais que dedico essa reflexão.

Não existem fórmulas para jogar o papel de pai na vida - tanto quanto o papel de mãe. E as idealizações não logram bons resultados. Porém, só o fato de tentar se envolver já é uma clara mensagem de amor.

Comecemos por lembrar que a paternidade é algo mais que a possibilidade de ser fértil e ter capacidade de procriar!

É preciso assumir a responsabilidade primaria do amor pela criança e ir mais além. Necessita-se superar os papeis estereotipados, estabelecidos ao longo da história.Superar no sentido de explorar, conhecer e aceitar as exigências próprias do tempo atual,as demandas, as características e os “tempos” de cada filho em particular.

Quem disse que era uma tarefa fácil esta de ser pai?

Aprender e participar do ofício pode ser reconfortante para o homem que deseja ser pai. Ninguém nos obriga ou exige que sejamos pais. A paternidade é uma eleição e um compromisso; ainda que tenha sido fruto de uma irresponsabilidade.

Crescemos escutando que o pai é a lei, a autoridade, o limite,a moralidade, o provedor do lar.Às mães cabem, além do seio-alimento-afeto, a sensibilidade, o compromisso o estímulo, o apego e os vínculos.

Estabelece-se o duelo de sempre: masculino versus feminino. Uma dicotomia que se rompe quando entendemos que já passou de moda a “guerra dos sexos” e, que o quê precisamos buscar é a integração, para alcançarmos o melhor modelo de pais que se possa ter.

Vamos tentar articular as distintas teorias psicológicas. Apesar de cada qual ter seu foco em aspecto em particular, todas coincidem sobre a relevância do vinculo pai-filho!

As últimas investigações realizadas em torno do laço paterno, certificam que já nem todos os olhos estão exclusivamente voltados para o benefício seguro do apego mãe – filho. Os novos resultados assinalam, entre outra coisas, que “o pai tem as mesmas capacidades para criar um filho que uma mãe”; Que as crianças com pais altamente comprometidos se caracterizam por uma maior capacidade cognitiva, maior empatia,crenças sexuais menos estereotipadas e melhor capacidade de auto controle. Enfim, “quem maior contato teve com a figura paterna, maximizou suas capacidades e chegaram a atingir patamares mais elevados de competência.”

Os bebês que desde os primeiros meses de gestação gozam da influência paterna positiva, conseguem desenvolver maior autonomia e independência e manter laços significativos ao longo de sua vida.

O psiquiatra infantil James Herzog crê que a primeira seqüela que um pai ausente pode gerar em seus filhos, meninos ou meninas,é a dificuldade de controlar os níveis de agressividade.Segundo o autor, professor da Universidade Harvard, quem não teve um vinculo paterno seguro muito provavelmente não pode orientar suas pulsões e energia em torno de condutas produtivas e saudáveis. Neste sentido, os meninos tornam-se pessoas duras, rígidas e violentas.Enquanto as meninas passam a canalizar sua raiva de maneira auto destrutiva.

Muitos casos de adições, violência, delinqüência e outras condutas anti-sociais extremas têm fundamento nessa falta paterna.

Herzog defende também que uma das conseqüências desse pai ausente é o manejo com a própria sexualidade e os sentimentos sexuais. Aqui novamente difere as conseqüências para meninos e meninas. Os meninos que sofrem essa ausência tendem a desenvolver, mais tarde, fantasias homoeróticas.QUE É DIFERENTE DE SER HOMOSSEXUAL.Quanto maior for “a fome de pai”, maior é a possibilidade de encantamento e desejo por um mentor, treinador, professor, amigo próximo. E maior também é a possibilidade de sexualizar esses sentimentos. No caso das meninas, esta “fome” pode conduzir a um incremento no número de parceiros sexuais, porém com muito menos grau de satisfação.

Seria injusto deixar de reconhecer o trabalho de muitas mulheres que são única referencia em tantos lares mono parentais, típicos desses tempos.Acredita-se que tendo internalizado pai simbólico, representante das leis culturais, é possível alcançar sucesso no estabelecimento do necessário limite entre elas e seus filhos.

Mesmo na ausência do pai, é importante preservar a figura, lembrança, seja em caso de morte, de doença ou falta de habilitação para exercer seu papel. E evitar desqualificações diante dos filhos, mesmo que esse pai não possa ou não saiba cumprir sua responsabilidade e compromisso.

Os pais deveriam evitar expor seus filhos aos conflitos e duelos do mundo dos adultos.

Assim como herdamos as idéias e emoções dos nossos pais, também recebemos legados sobre estilo e formas particulares de vincularmo-nos e comunicarmo-nos com os outros. É tarefa do filho definir e aceitar seu pai, para poder eleger, reciclar ou descartar o modelo que se tenha herdado.

É importante saber que nosso cérebro e nossa vida podem ser flexíveis, tanto quanto desejarmos. Nesse sentido, devo destacar que mesmo que as carência ou ausências (materna ou paterna) possam ser determinantes, as experiências de vida nos ajudam a resignificar e decidir o que queremos ou necessitamos para nosso projeto de vida.

terça-feira, 5 de julho de 2011

É na terapia que a gente se entende

Por Cinthya Leite
Publicado na Revista JC em 02.01.2011

Cada uma com suas peculiaridades, psicanálise, psicodrama, bioenergética e psicoterapia cognitivo-comportamental são algumas das abordagens disponíveis para quem busca bem-estar

Nem sempre conseguimos lidar sozinhos com as nossas angústias, os nossos medos e até as verdades que nos circundam. O ano-bom que se inicia é uma boa oportunidade de abraçarmos uma reviravolta para alcançarmos o desejo de mudar interiormente. Se existem dificuldades para superarmos conflitos ou aprimorarmos o autoconhecimento, vale muito a pena recorrer a especialistas capazes de aliviar o sofrimento, a amargura, a ansiedade e vários outros sentimentos que desequilibram o bem-estar.
Um terapeuta também pode estender a mão a quem deseja apenas se conhecer melhor. Pessoas que têm dificuldades em ser assertivas, por exemplo, podem se transformar quando passam por sessões que mais parecem um bate-papo informal. Bom é que, cada vez mais isentas de cerimônias, essas conversas que oferecem equilíbrio afetivo conquistam pessoas de várias faixas etárias.

Talvez tanto desembaraço tenha sido fundamental para quebrar o gelo entre o terapeuta e o paciente. Diante desse cenário, é uma verdade dizer que o universo terapêutico está tão moderno e flexível que até mesmo o divã não é mais regra num consultório de psicanálise, a forma mais antiga de psicoterapia e desenvolvida por Freud nos primeiros anos do século 20.

“Há correntes que não são mais tradicionais ao extremo, embora continuem a valorizar a referência teórica deixada por Freud. Atualmente, há sessões baseadas numa abordagem que sofre variações de postura. E por isso, passamos a ter uma atitude mais ativa no contato com o paciente”, explica a psicóloga e psicanalista Maria Helena de Barros e Silva, do Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem (CPPL).

De acordo com ela, qualquer tipo de terapia atuará na esfera emocional do indivíduo e analisará todos os aspectos que constituem os hábitos, a criação, a família, os aspectos sociais e a história de vida do paciente. “A nova psicoterapia psicanalítica não precisa, necessariamente, auxiliar quem passa por um momento de crise. É direcionada também às pessoas que desejam se conhecer melhor e pretendem mudar a forma de agir socialmente”, informa Maria Helena, que pede para abrirmos sempre os olhos diante da maneira como conduzimos nossas vidas. “Geralmente, a causa dos vários problemas está na forma como decidimos fazer parte do mundo.”

No CPPL, vale frisar, há o serviço de psicoterapia intensiva, caracterizado por abordagens terapêuticas pensadas e pesquisadas especificamente para crianças, adolescentes e suas famílias em grave sofrimento psíquico. “Trata-se de uma atuação interdisciplinar, que observa o paciente como um todo”, diz Maria Helena. Embora o foco desse tipo de terapia seja a geração infantojuvenil que passa por situações difíceis, os adultos que enfrentam condições obscuras também podem recorrer à psicoterapia intensiva, cujas sessões podem ser individuais ou grupais.

Em linhas gerais, todos os caminhos que permeiam a psicoterapia são indicados a quem deseja atingir um autoconhecimento ou àqueles que pretendem controlar transtornos mentais (também chamados, pelos especialistas, de psicopatologias) que têm como origem a ansiedade. A lista é imensa: depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), estresse pós-traumático, transtorno afetivo bipolar, distúrbios alimentares, síndrome do pânico e outras fobias que podem ser controladas com os diversos tipos de terapias.

“O que marca a singularidade da psicanálise e da psicoterapia psicanalítica é o trabalho voltado para a causa dos sintomas, e não apenas para a remoção deles”, salienta o médico psicoterapeuta Dival Cantarelli. “Depressão, pânico, fobias, TOC e estresse são as mesmas neuroses teorizadas por Freud. Atualmente, contudo, essas psicopatologias estão manifestadas com uma embalagem contemporânea e, muitas vezes, diluída no campo social”, diz.

Assim como Maria Helena de Barros e Silva, ele sublinha que a psicanálise tem se atualizado em relação à detecção desses sintomas e distúrbios contemporâneos, sem perder de vista os fenômenos inconscientes. “Um psicanalista criativo e competente saberá ofertar ajuda para resolver uma situação atual aguda que necessita ser tratada com acolhimento”, ressalta Dival.

Segundo ele, é mito a ideia de que o benefício obtido através dessa terapêutica é percebido apenas a longo prazo. “Trata-se de um exercício clínico dinâmico e vivo.” Sobre a psicanálise atual, Dival é claro ao alegar que a ortodoxia cede lugar a um exercício clínico atualizado pelo desejo de se encontrar um alívio para o sofrimento psíquico num curto espaço de tempo.

ALTERNATIVA

Todas as psicopatologias já citadas anteriormente também podem ser trabalhadas através das técnicas da psicoterapia cognitivo-comportamental (PCC), que surgiu na década de 70 no Brasil, embora só tenha sido difundida nos anos 80. “Trata-se de uma abordagem terapêutica que ajuda o paciente a desenvolver uma coerência adequada entre seus sentimentos, pensamentos e comportamentos”, diz a psicóloga clínica Beneria Yace Donato.

A mira da PCC também é o sistema de crenças do paciente. Nesse sentido, o papel do especialista é promover uma reestruturação cognitiva. Na prática, uma pessoa que convive com o TOC é treinada a enfrentar obsessões sem realizar compulsões. Traduzindo: normalmente, ao chegar em casa, um indivíduo lava as mãos antes de sentar à mesa. Quem tem TOC lava as mãos várias e várias vezes para aliviar uma ideia irreal de que poderá se contaminar se não fizer a higiene de maneira compulsiva. Ao seguir os princípios da PCC, essa pessoa se empenha para enfrentar o imaginário sem praticar as repetições.

É um trabalho capaz de produzir um bom efeito, segundo Beneria, que atua nessa linha terapêutica há 15 anos. “As sessões são estruturadas, organizadas e dinâmicas. Pode ser necessária a utilização de instrumentos, anotações e preenchimentos de registros. Em alguns casos, o atendimento é realizado até fora do consultório”, informa Beneria. Pois é, a PCC também toma corpo além das quatro paredes da clínica. Através desse procedimento, o especialista consegue visualizar e analisar melhor as dificuldades do paciente no dia a dia.

Outro tipo de abordagem psicoterapêutica que faz uma avaliação do indivíduo sem se limitar ao divã é o psicodrama, que se sustenta em três pilares teóricos: a sociologia, a psicologia e o teatro. É o que garante a psicóloga e psicodramatista Mônica Caluete, diretora pedagógica e científica do Centro de Psicodrama e Sociodrama (CepsBrasil). De acordo com ela, a proposta dessa terapêutica é tratar os problemas no contexto em que eles acontecem.

PSICODRAMA

“Todos nós pertencemos a grupos e, dentro deles, podemos nos formar e nos deformar. Então, no momento de tratarmos as dificuldades, aproveitamos esse contexto para transformarmos doença em saúde”, fundamenta Mônica. Sobre o âmbito de ação do psicodrama, ela garante que é ilimitado, sem exigência de talentos ou capacidade específica dos participantes.

As sessões, segundo a especialista, podem ser realizadas em consultórios em que há espaço delimitado para o “palco” e materiais de cena como tecidos, máscaras e fantoches. “As indicações dessa abordagem terapêutica são variadas. Procuramos trabalhar com o potencial saudável do indivíduo e ajudar na promoção do encontro consigo e com os outros”, salienta Mônica.

Tão dinâmica quanto o psicodrama é a análise bioenergética, outro método que aposta em técnicas de intervenção corporal como forma de pôr em vigor a autoconsciência, o autodomínio e a autoexpressão. “Não trabalhamos apenas o conteúdo verbal trazido pelo paciente, mas também fazemos uma leitura corporal”, afirma a psicoterapeuta Grace Wanderley de Barros Correia, do Libertas.

No livro O corpo fala, conhecido por inúmeras gerações, já bem mostram os autores Roland Tompakow e Pierre Weil que é imenso o valor da comunicação não verbal. A partir desses princípios, aparecem expressões, gestos e atos corporais que revelam sentimentos, concepções e posicionamentos internos. Nessa linha, Grace dá ênfase à ideia de que o corpo dá muitos sinais importantes que ajudam o processo de escuta analítica. “Diante de uma situação de medo, por exemplo, passamos a ter uma respiração diminuída. Ao trabalharmos esses temores, é possível melhorar a inspiração e a expiração”, garante.

A propósito, embora as abordagens terapêuticas tenham traços peculiares, todas têm potenciais aceitos cientificamente para ajudar o ser humano a resgatar a autorregulação do organismo e a integração dos aspectos físicos, psíquicos e emocionais. Afinal, todos nós precisamos de equilíbrio entre corpo e mente para lidarmos sem neurose com nossas inquietudes. Como um terapeuta pode dar uma mãozinha na montagem de qualquer quebra-cabeça, não vamos adiar a procura pelo profissional que mais combina com a nossa personalidade e os nossos anseios. Com assistência terapêutica, é possível aproveitar o novo ano com mais determinação.