terça-feira, 27 de setembro de 2011

SÓ OU ACOMPANHADA (O)?

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As pessoas da nossa época tendem a estar cada vez mais consigo mesmas.Os vínculos vêm mudando. Os projetos de vida atuais pouco têm a ver com os perseguidos em outros tempos. É que como já sabemos, as relações de gênero mudaram ao ponto de desbancar o modelo de casal tradicional. Sem dúvida, ainda que tenhamos assistido a giros de noventa graus,esta transformação não chegou ao seu fim.

A psiquiatra francesa Mary-France Hirigoyen afirma que quanto aos laços pessoais, a solidão se transformou num traço próprio desta época.
Este fenômeno social, sobretudo nas grandes cidades, cria um paradoxo: “por um lado nos dizem que a solidão é um dos males do século e que precisamos criar vínculos e comunicarmos a qualquer preço; por outro nos é exigido a autonomia.”

A contradição excede a teoria para palpar-se nos fatos. Mesmo nessa era dominada pela comunicação e na qual as relações entre indivíduos são permanentes, existe um grande número de pessoas com o doloso sentimento de solidão. O curioso é que cada vez mais se escolhe viver sem companhia.

É sabido que a autonomia das mulheres tem influído notoriamente na maneira de vincular-se com os homens. Suas conquistas nos campos econômico e sexual lhes abrem portas para a independência e já não se mostram tão dispostas a renunciar a isso para embarcar na vida de casal. Assim, os laços amorosos fusionais têm cada vez menos espaço e o efêmero ganha terreno.
Quando a vida a dois deixa de brindar a segurança de outros tempos, voltar-se para o trabalho torna-se uma opção atrativa. Porém aqui, há tampouco uma satisfação plena, já que a organização laboral atual produz mais solidão.

Mary-France em seu livro As novas solidões não tem dúvidas ao afirmar que “cada um tem que velar por si mesmo.” E que “não existe nenhuma solidariedade entre colegas”.
Como se fosse pouco, esta sociedade julga as pessoas pelos seus êxitos materiais,tornando o consumo vital para existência.

Para o filósofo Gilles Lipovetsky, “seriam as frustrações que levariam os indivíduos a consumir tanto.Quanto mais se multiplicam as contrariedades da vida privada,mais se desencadeia o consumismo,como consolo, satisfação compensatória ou como meio de levantar o moral.”
A má noticia é que tudo isso está a “quilômetros” de satisfazer-nos. “Apesar de uma melhor qualidade de vida e dos modernos instrumentos de comunicação, não diminuem o mal estar anímico e o isolamento vem aumentando.”

Nem a internet nos transporta à salvação esperada. A multiplicação das redes sociais e dos sites de encontros não necessariamente estreitam os laços, já que ali também o indivíduo se encontra como um em meio à multidão de iguais. Difícil diferenciar-se.

Os vínculos pessoais que tomam forma na sociedade moderna se naturalizam com o passar dos anos; porém, algumas conotações perduram. Não por acaso a solidão continua arrastando uma imagem negativa.Temos pena de uma pessoa só, lamentamos que não tenha encontrado ninguém que a acompanhe na sua caminhada pela vida. E se imagina seu tédio, sua depressão e sua frustração.

E os verdadeiros solitários, aqueles que não vivem nenhum desses sintomas, apenas não se atrevem a mencionar seu estado porque temem a imagem negativa que sua situação pode trazer-lhes. Podendo proteger-se de comentário ,tipo: “pobrezinha, não consegue namorado(a)”ou “com este temperamento,vais terminar sozinho(a)”.

Na realidade, o sentimento de solidão é uma noção subjetiva. É possível sentir-se só na multidão, na família ou mesmo no casamento.
“Se trata de um sentimento de vazio interior que não corresponde à necessidade de companhia e sim a sensação de estar desconectado do mundo, de ser incompreendido. No fundo, é a aguda consciência da situação de ser humano, diante de si mesmo e da morte”.

Como em sociedades modernas, as pessoas se encontram para não enfrentar seus medos. Aqueles que desfrutam da solidão são vistos como estranhos!

Conheço inúmeras pessoas que não se entendiam quando estão sós. Escolhem ler, fantasiar,escutar música. Porém, assim como há quem se enriquece com os momentos solitários, existe também a solidão penosa e desesperada. As vivências são bem diferentes.

Nota-se nas estatísticas do recenseamento, que nos últimos 30 anos houve a tendência de duplicação do número de pessoas que vivem sós em suas residências.Tanto é assim que existem empresas, atualmente, que buscam cativar uma fatia do mercado chamada Single.Pacotes turísticos, cafeteria, comidas elaboradas são algumas das campanhas publicitárias voltadas ao publico que vive só.

Os vínculos de casal alternativos ao matrimônio fazem cada vez mais sombra à união tradicional. “No século 13 assitiu-se ao surgimento do amor romântico. Desde então, as pessoas se casam com mais freqüência porque se amam. Porém, a partir da década de 1990, as coisas voltaram a mudar: já que existe amor, por que casar-se? A instituição já não é o casamento e sim o amor, que se converteu na condição indispensável para a vida em comum”.

Neste contexto, não é surpresa que se tornou complicado construir, ter vínculos fortes e duradouros. É que a exigência do amor debilita o casal, porque se a relação se constrói só sobre sentimentos é difícil que agüente o passar do tempo. Se veria obrigada a ser sempre bela e mágica, coisa que pouca vezes acontece. Por isso , se a relação se degrada, se produz aos poucos a ruptura. Esta supervalorização do amor é, na maioria das vezes, uma reação frente ao mundo individualista.

Pesquisas somadas às histórias de vida que se escutam nos consultórios levam a concluir que o individualismo declara guerras aos laços mais íntimos. E nisto o amor próprio tem um papel relevante. “O amor colocado no centro das relações é narcisista: amo essa pessoa porque adoro a imagem de mim mesmo que ela ou ele me devolve. O que implica que se outro atravessa uma má fase, já não me devolverá essa imagem gratificante, então sairei a busca de outra companhia que me permita continuar em meu pedestal.” Isto equivale dizer que esse é um casal que busca a realização pessoal através do outro, mais que a construção de uma relação.

Assim, o ponto final das relações se encontra cada vez mais perto. De fato, a duração dos vínculos é uma das mudanças mais importantes que tem como protagonista o casal da contemporaneidade. “Se o outro não satisfaz, a desafeição é rápida”.

A visão do sociólogo Zygmunt Bauman traz maior clareza ao sustentar que existe uma tendência a tratar seres humanos “como objetos de consumo e a julgá-los como se julga tais objetos, pela quantidade de prazer que podem oferecer”.
Queremos o melhor ao menor custo. Quando o outro já não cumpre as expectativas, é devolvida à fabrica, ainda que tenha expirado o prazo de garantia. E se o assunto é separação, as mulheres assumem papel relevante, pois três em cada quatro pedidos de separação se produzem por iniciativa feminina.

Após uma separação, é importante reconstruir-se só, sem um par que sirva de muletas, pois o ariscar-se em reparar um mal estar interior, introduzindo-se qualquer um(a) imediatamente na própria vida. E esta não é a única razão pela qual devemos aprender a andar sós. Se trata de um recurso que nos permite estar em contato com os próprios sentimentos, desenvolver a imaginação criativa e suportar melhor a perda, o luto.

Sabemos que se aproveitarmos essa oportunidade, a aprendizagem é garantida.Mesmo para aqueles cujas mães não foram presentes e nem souberam se ausentar, dificultando a vivencia da perda de maneira madura.

Não é a solidão que causa dor, sim a ausência de ser amado!!!

Perder um amor não tem que se tornar uma catástrofe irremediável, pelo contrário, o simples fato de havê-lo vivido deveria ajudar a recuperar-se.

Soa simples, né? Porém, na prática,é mais difícil que parece. E isto é justamente uma conseqüência do mundo que vivemos: se valoriza viver com alguém, portanto não há suficiente espaço para a solidão!

Sem dúvida frente ao frenesi desses tempos, começa-se a vislumbrar-se uma necessidade de espaço próprio, algo que vá alem do viver só, em família ou em casal. “O importante é conceder-se momentos e lugares para um, porque ama-se.Amar o outro também é aceitar sua parte inacessível”.

“A solidão é audaz, é perigosa”,afirma Hirigoyen. “Às vezes atua como uma droga que causa dependência. Porém não deve-se confundir essa eleição com rejeição ou indiferença diante dos demais, sim um distanciamento que em nossa época pode ser equivocadamente interpretado. Isto não exclui a presença do outro, porque se estou em paz comigo mesma me torno mais disponível.”

É aqui que se abrem novos caminhos de socialização: privilegiando relações desinteressadas, profundas para não reduzir-se às relações de trabalho e sexo.
Neste novo modo de vida, haverá varias pessoas importantes para uma, não haverá uma única.
Por isso, é que baseado em estudos sobre tipos de relação, precisamos saber identificar e se preciso for ajustar essas formas para melhorar nosso desempenho interrelacional.
Vamos aos diferentes modelos de casais hoje:

FUSIONAL:

Aqui os conjugues fazem tudo juntos; se trata e um modo de relação alienante, mas que gera sensação de segurança. Neste modelo, característico de gerações precedentes, o perigo é que um se sinta devorado pelo outro e tenha a sensação de perder sua autonomia. Na fusão nenhuma boa solidão é permitida.

AUTONOMIA LIMITADA:

Nestes casais a dinâmica relacional não deixa-se invadir pelas regras. Se busca amor, porém sem algumas obrigações.
Os conjugues conservam contas bancárias diferentes, redes de amigos distintas e as vezes tiram férias separados. Em princípio, persiste uma exclusividade sexual e afetiva. Se um terceiro se imiscuí na relação, salvo exceções, aquele que se sentiu traído terá grande dificuldade de voltar a confiar e se inclinará para o modelo fusional ou ainda torna-se palpável à eleiçãopela solidão.

NÃO CONVIVÊNCIA:
No extremo oposto do casal fusional, alguns sentem necessidade na intimidade de desfrutar de um espaço próprio. Por isso diante da dificuldade de viver juntos o dia a dia, alguns casais, jovens ou cinqüentões, decidem não conviver sob o mesmo teto.
No início da relação, quando um dos dois mora em outro país, ou quando se tem uma vida independente que não se quer renunciar, optam por este tipo de vínculo.

OUTRA FORMAS:

Casamento de três, ou triangulares, que permitem conciliar a bissexualidade; ou ainda relações abertas, que experenciam uma liberdade sexual completa; e as relações em que a fidelidade se situa na duração do contato.

4 comentários:

  1. Como sempre Mônica, texto ótimo e deveras esclarecedor!

    Bjos
    Elis...

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  2. É um tema complexo. Por isso, é muito pertinente ser abordado e discutido com o grande público. Parabéns, Mônica. Atualmente tenho pensado também no quanto o feminismo e o movimento de mulheres tornou nossa maneira de nos relacionarmos com os homens mais repleta de tensões. Nosso feminismo vive em choque com nossas heranças seculares dos gêneros. Então, eu não preciso de um provedor, no discurso sou absolutamente libertária, mas meus demônios interiores clamam o tempo todo por proteção, segurança e poder masculino. Num mundo em que as mulheres avançam cada vez mais e cada vez é mais difícil encontrar um homem bem-sucedido, com salários no mesmo patamar, as angústias tornam-se inevitáveis.

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  3. Mônica, muito lindos os artigos que postas aqui. Venho tentando me comunicar com cursos de Pós Graduação em Psicodrama, voces oferecem? Preciso saber com um pouco de urgência, pois estou contatando a Cybelle de Aracaju para fazer minha Pós lá, entretanto, se voces oferecem Pós em Recife, fica mais perto e mais fácil para mim, uma vez que moro em João Pessoa.

    Aguardo resposta urgente: silviaban@ymail.com

    Contato telefônico:
    83-8841-3383 (Oi) e 9902-8563 (Tim).

    Gratidão, gratidão, gratidão
    Abraço
    Sílvia Bandeira

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  4. Desculpem-me, O Tim está errado, é 9901-8563
    Gratidão

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