terça-feira, 5 de julho de 2011

Dor-de-cotovelo tem cura

Dor-de-cotovelo tem cura
Publicado na Revista JC do Jornal do Comércio em 17.08.2008
Por Bruna Cabral
bruna@jc.com.br


Dor-de-cotovelo é inevitável. E não é um diagnóstico raro. Atinge homens, mulheres, garotos e garotas, independentemente de orientação sexual,classe social e histórico familiar ou médico. Tão certo quanto o grude dos primeiros meses de relacionamento, o fim é sempre desastroso: tanto para quem decide partir, quanto para quem ainda
teima em ficar. Mas é inquestionavelmente pior ser abandonado. Quando ainda resta uma esperança de que as coisas melhorem ou falta coragem para
enfrentar a solteirice e seus domingos de ócio
solitário, o famoso – e indesejado – pé na bunda
machuca demais. Tanto que ninguém nunca se
acostuma a ele.
Com direito a longas conversas ou
subitamente, sem pistas, toda despedida leva
também um pedacinho de quem não foi. “Logo que
acontece, a gente fica achando que nada mais faz
sentido, que não vai conseguir ser feliz de novo.
Parece que o outro levou tudo da gente: sossego,
auto-estima, força, vaidade...”, diz uma ex que
prefere não se identificar, para evitar remexer na
história que a duras penas conseguiu enterrar,
“junto com a vontade de morrer”, brinca. Amigos,
familiares e uma saudade sufocante, conta, foram
seus companheiros mais fiéis naquele momento.
Também não faltaram trilhas sonoras melosas,
pijamas largos, olho inchado e faltas injustificadas
ao trabalho. “Não consegui evitar os clichês”, diz
Patrícia*.
Nem precisava. Apesar de cada um ter lá
suas estratégias para enfrentar uma desilusão
amorosa, os psicólogos garantem que admitir e
encarar a perda é a melhor maneira de superá-la de
fato. “A dor não deve ser tangenciada. A gente não
tem como sair de onde não entra”, diz a
psicoterapeuta Mônica Caluete. Segundo ela, a
terapia mais usada para curar dor-de-cotovelo “por
homens e mulheres, indistintamente” é a fuga. “As
pessoas nunca foram tão incapazes de lidar com
frustrações”, diz. E fazem de tudo para não ter que
carregar o pesado pacote delas que resulta de uma
separação. “Quando alguém finge que a dor não
existe, ela não passa, cronifica. E aí vira amargura
ou doença psicossomática.”
Mas nem tudo que vem à cabeça na hora da
dor é vontade de correr. Há alguns paliativos que
são utilizados instintivamente por quem está na
fossa e podem ajudar um bocado na via-crúcis até a
luz no fim do túnel. No meio desse fogo cruzado da
razão contra a emoção, a defesa adotada quase
sempre é mudar: a rotina, a decoração de casa, o
cabelo, a silhueta e tudo mais que for possível.
“Fazer novos amigos, sair para lugares novos, tudo
pode ser benéfico, desde que traga prazer ao
indivíduo e não o coloque em situação de risco”, diz
a psicóloga Danielle Diniz.
Para garantir uma recuperação mais rápida
e menos dolorosa possível, a jornalista Isabela
Barros mudou absolutamente tudo depois da partida
repentina do companheiro de 14 anos “e meio”.
“Namoramos 12 anos, casamos, mudamos de cidade
juntos, montamos o apartamento. E, de repente,
sem nem explicar direito por que, ele foi embora”,
lembra Isabela, 30. Na verdade, já esqueceu.
“Fiquei sem entender nada. Chorei, lamentei, mas
fiz questão de não deixar que uma pessoa abalasse
meu humor, nem minha relação com todas as
outras.” Desde que se separou, Isabela diz que
nunca foi tão simpática.
Nem tão bonita. Solteira há apenas quatro
meses, ela já perdeu oito quilos, mudou a cor do
cabelo, a decoração do apartamento e garante que
está felicíssima. “Foi a melhor coisa que poderia ter
acontecido. Pra que lamentar? Mesmo a pior das
situações pode tornar-se algo positivo. Depende da
gente”, diz Isabela, que já tem várias viagens
programadas para este ano.
A médica Carla *, 29, também escolheu a
poltrona do avião para sair do baixo-astral que
tomou conta dela quando seu namorado declarou-se
ex após quatro anos de relacionamento. “Fiquei
arrasada. Chorei, liguei, fiz tudo que achava que
devia. Mas um dia me dei conta de que precisava
seguir adiante.” E foi o que fez, literalmente. Pegou
um avião com um grupo de amigas e foi parar em
Fernando de Noronha. Alugou o ouvido alheio,
divertiu-se e voltou para casa muito mais leve.
“Divido aqueles meses em A.N. (antes de Noronha)
e D.N. (depois de Noronha)”, brinca. Depois de
Fernando de Noronha, Carla foi a Pipa, Porto Alegre,
São Paulo e Buenos Aires até que finalmente se
encontrou. “Hoje acho que sou uma pessoa muito
melhor que era com ele. Não tinha amigos, vivia em
função do namoro. Acho que todo fim ensina a
começar de outro jeito.”
E não está enganada, garantem os
psicólogos. Segundo Mônica Caluete, é a forma
como as pessoas vivem o relacionamento que vai
determinar a intensidade da dor ao final. “Uma
relação é para ser protagonizada por dois. Quando
alguém se anula, sofre muito mais quando precisa
voltar a viver sozinho.” Uma lição que a médica
Juliana*, 34, precisou de quatro desilusões “graves”
para aprender. “Hoje acho que não há como se
preparar para um relacionamento. Cada um é de um
jeito. Só não dá para se encher de cicatrizes e ficar
descrente ou diferente do que somos. O outro não
pode mudar a gente pra pior.”
Mas, em alguns casos, tenta. E conduz tão
mal o fim, que inviabiliza até a fossa. Foi o que
aconteceu com a administradora de empresas
Gabriela Barreto, 22. “Namorava há quatro anos
com uma pessoa que, mesmo morando a 15
minutos da minha casa, preferiu acabar o namoro
pela internet. Nem lamentei. A raiva me motivou a
nem sofrer”, conta.
Já no caso do músico Chico Tchê, 32, foi o
contrário: o carinho que sempre sentiu e ainda sente
pela ex-mulher foi o que o ajudou a ocupar a lacuna
enorme que ela deixou em sua vida, após 15 anos
de relacionamento. “Quando a gente percebeu,
tinha virado amigo.” Aí, oficializaram a situação. E,
como bons amigos, hoje se ajudam muito a encarar
a vida de solteiro. “Tive que reaprender a viver só.”
Além de sua ex, foi o trabalho que ajudou Chico a
superar a tristeza. “Dei um duro danado. Aí sobrou
dinheiro para um computador novo.” Que ele já
sabe: vai usar para trabalhar mais ainda.J
* Nomes fictícios

Um comentário:

  1. Monica Parabens a reflexao sobre o papel do Pai esta otima!Acredito que um pai presente,afetivo e dialogando contribui para a prevencao da violencia domestica e;ou sexual com as criancas e adolescente.bjs carla maldonado

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