Até muito recentemente, longevidade para mim era uma palavra
que remetia às civilizações asiáticas, mais precisamente no Japão. País onde
era possível encontrar pessoas saudáveis e ativas aos 100 anos.
Hoje, século 21, podemos até mesmo aqui no Brasil, país
recém saído da condição de subdesenvolvido para emergente, dizer que a geração
que viverá 150 anos já nasceu. Incríveis esses saltos todos que demos!
Aumentamos em 28 anos a expectativa de vida entre 1940 e 2010. Esse aumento trouxe-nos
uma nova relação familiar.
Agora, os filhos vivem com os pais que estão envelhecendo
dilemas muito parecidos com que os pais viveram com eles na adolescência:
- Devemos apoiar a autonomia deles, mas sem deixar de
cuidar?
- Como podemos lidar com os sentimentos de irritação e
ternura que se alternam quando percebemos mudanças de comportamento típicos na
fase de vida deles?
- Como podemos lidar com o medo de perdê-los de vista?
- Como lidar com aquela sensação de impaciência ou nos
vermos naquelas reações que nos denunciam pelas semelhanças?
- Como podemos nos organizar para nos mantermos perto deles,
apesar das nossas vidas serem corridíssimas?
É, são questionamentos vividos apenas diante dos nossos
filhos adolescentes.
Avançar os limites da expectativa de vida, sempre foi uma
declarada ambição humana. E aí apareceram a evolução da medicina, os avanços da
farmacologia, ou a disseminação de hábitos mais saudáveis, que aumentam a
probabilidade do corpo humano manter a sua vitalidade ao longo dos anos.
Tantas mudanças em tão pouco tempo trouxeram uma nova
confirmação das relações familiares. Como as pessoas estão vivendo mais, os
filhos estão precisando aprender a lidar das mudanças dos pais que envelhecem,
mas lutam, e com razão, para manter a própria autonomia. Em muitos casos, os
filhos estão envelhecendo junto com os pais.
É uma situação nova. Ninguém se preparou para isso.
Naturalmente surgem ansiedades, dúvidas e angústias.
“Mas, mesmo os filhos vivendo um momento delicado diante da
velhice dos pais, é possível ter uma experiência de vida muito rica, de
superação de crescimento, fundamental para pausar o próprio envelhecimento a
relação com os filhos e com o futuro” (Delia Goldman – Corpo, tempo e envelhecimento).
Guardando a alteridade de cada caso, ainda assim, a maneira
como os filhos se confundem quando percebem o envelhecimento dos pais, tende a
ser parecida. As dúvidas universais vão desde coisas cotidianas, como saber o
momento em que é preciso montar uma rede de prevenção para que os idosos vivam
com segurança e bem estar, até dramas filosóficos. É como lidar com a
construção da própria finitude e a pergunta inevitável: Como vai ser na minha
vez?
Segundo Alberto Gondim, psicanalista, detectar como os pais
reagem diante do próprio envelhecimento é algo valioso. Mesmo que haja
resistências, de forma delicada, é possível introduzir o tema e juntos eles
podem observar se é preciso adotar uma nova estratégia ou algumas mudanças no
estilo de vida. Mas é preciso lembrar: Velhice
não é doença. É evolução de vida!
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